Relato de viagem visitando projetos socioambientais na América Latina, com foco em ecossistemas de montanha e percepção dos moradores sobre a crise do clima. O percurso inclui o planejamento, outras viagens, estradas de asfalto, de terra, trilhas, sonhos, pensamentos e caminhos do coração. / Relato de viaje visitando proyectos socioambientais en América Latina, con mirada en los ecosistemas de montaña y la percepción de la gente sobre la crisis del clima. Incluye el planeamiento, otros viajes…

domingo, 12 de abril de 2009

5. Adeus Sete Quedas


Julho de 1982. (Este blog não é cronológico. Avança e volta no tempo conforme o vento e a memória.)

A notícia da inundação do Parque Nacional de Sete Quedas veio como bomba. O fechamento das comportas da represa de Itaipú deixaria inteiramente por debaixo d'água, por uns poucos metros, as sete grandes quedas do Rio Paraná e a floresta circundante. Nem mesmo o status de Parque Nacional poderia impedir o massacre. O clima de restauração da liberdade, em pleno governo do General Figueiredo permitiria o protesto, mas jamais possibilitaria mudar a história. Numa tentativa de compensação do estrago, o mesmo presidente decretou a ampliação do Parque Nacional do Itatiaia, que passou de 15 para 30 mil hectares, em áreas até hoje não indenizadas. Impagáveis, as sete quedas silenciariam mas nós não podíamos calar. Na época eu trabalhava na Coonatura, no Rio, em contato com muita gente que praticava ecologia de forma integral. Alugamos (e lotamos) uma kombi e pegamos a estrada para nos juntar aos milhares que foram se despedir das cachoeiras, pouco antes da proibição do acesso de brasileiros ao ex-parque por decreto-lei, publicado no dia 29 de setembro. Fomos numa pernada, pelas rodovias Dutra e Castelo Branco, parando para dormir dentro do carro por algumas horas e chegando no dia seguinte. Lá acampamos e nos juntamos com gente de todo o sul e sudeste do Brasil, em vários dias de eventos, palestras, dinâmicas, danças. Em algum momento lembro de ter ido ao microfone dizer que nossos filhos voltariam para assistir o ressurgimento das quedas, quando Itaipu, assoreada, fosse desativada. Um índio morador da região de despediu das cachoeiras, ricas em sons, vozes e conselhos. Encontros especiais agitaram os corações. Voltamos cansados, alegres, derrotados e vitoriosos.













Adeus a Sete Quedas

Sete quedas por mim passaram,
e todas sete se esvaíram.
Cessa o estrondo das cachoeiras, e com ele
a memória dos índios, pulverizada,
já não desperta o mínimo arrepio.
(...)
Sete quedas por nós passaram,
e não soubemos, ah, não soubemos amá-las,
e todas sete foram mortas,
e todas sete somem no ar,
sete fantasmas, sete crimes
dos vivos golpeando a vida que nunca mais renascerá.

(Drummond: 100 anos Carlos Machado, 2002
Carlos Drummond de Andrade In Jornal do Brasil, Caderno B09/09/1982© Graña Drummond)

3 comentários:

  1. qual foi a data de inundaçao mesmo ?
    qual era o volume das aguas das sete quedas ?
    qual era o fluxo turistico das sete quedas ?

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  2. É muito triste saber que uma maravilha como essa nao existe mais,navegando pela internet sem querer encontrei a historia das sete quedas e fiquei encantado com tanta beleza imponente e imensidão que eram essas cachoeiras e ao mesmo tempo fiquei indignado com a forma em que foram destruidas,ano que vem faz 30 anos que as sete quedas deixaram de existir e somente por ter por ter as conhecido somente em fotos pela internet,fico feliz por essa maravilha da natureza ter existido e triste por infelismente nao existir mais.

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  3. Eu tenho orgulho de compatriotas(no bom sentido)como voces que nessa época tiveram a coragem de gritar em defesa desse monumento inesquecível!!!!

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